O “rei” dos equipamentos de proteção ao motociclista é o capacete, mas há outra parte do corpo humano que também exige atenção especial, pelo potencial de sequelas graves que podem ocorrer em acidentes. Se você está pensando na coluna vertebral, parabéns, acertou!
Motociclistas que tiveram sua saúde prejudicada por lesões de coluna são testemunhos tristes da gravidade do problema. Infelizmente, as consequências são quase sempre irreversíveis, resultando em limitações motoras como a paraplegia, a perda dos movimentos das pernas, ou a mais grave tetraplegia, quando os movimentos nos membros superiores também são afetados.
Este tipo trauma, pavoroso fantasma que ronda todos nós, pode ser atenuado com o uso de um equipamento de segurança que ainda é pouco disseminado: o protetor de coluna. Criado especificamente para motociclistas, diz a lenda que o inventor de um rudimentar modelo, espécie de bisavô deste equipamento, foi o piloto inglês Barry Sheene. Ele era famoso tanto por ser um grande campeão da motovelocidade dos anos 1970 como por colecionar pavorosos acidentes. Diz a lenda que, ao passar pelos controles de raio X dos aeroportos, Sheene os fazia enlouquecer por conta da quantidade de pinos e parafusos metálicos espalhados pelo seu corpo.
Talvez as muitas horas de hospital deram a Sheene tempo livre necessário para refletir sobre a sorte de não ter machucado a coluna e para bolar uma proteção para dar uma forcinha ao destino. Sheene se serviu de viseiras usadas de seu capacete e as uniu com fita adesiva, criando um aparato parecido com uma casca de lagosta, destinado a proteger sua espinha dorsal.
Deste criativo artesanato do piloto inglês aos melhores protetores de coluna disponíveis no mercado hoje em dia há uma intensa e qualificada pesquisa multidisciplinar envolvida. O estudo dos tipos de lesões, da fisiologia humana e dos animais (a lagosta…) e de materiais especiais resultou em artefatos extremamente protetivos.
Da época de Sheene até os dias atuais, nenhum piloto de motocicleta, de qualquer categoria, entra numa pista de competição sem um protetor de coluna. O progresso deste equipamento se deu tanto pela redução de peso e do atualmente mínimo incômodo causado pelo uso quanto pela efetividade oferecida. O protetor não é simplesmente uma carapaça plástica que age de maneira passiva, evitando que impactos lesionem as vértebras, mas também funciona ao limitar movimentos antinaturais da espinha dorsal.
A capacidade de curvatura desta verdadeira “viga mestra” de nosso esqueleto é muito ampla quando nos inclinamos à frente, mas limitada no sentido oposto, para trás. Em um acidente, o motociclista pode ser atingido por trás por outro veículo, pela sua própria motocicleta ou ser lançado bruscamente contra um obstáculo. Os mais evoluídos protetores de coluna limitam a possibilidade de a curvatura da coluna alcançar um ângulo exagerado, o que causaria lesão mesmo se o impacto não for tão violento, tendo como agravante o fato do motociclista poder estar desmaiado, coisa não incomum em tombos de moto.
Pesando pouco, entre 650 g e 1 kg, os mais efetivos protetores são os que se vestem, fixados ao corpo de modo aderente por meio de faixas elásticas. Menos eficazes, mas ainda assim preferíveis a não usar nada são os protetores incorporados ao forro das jaquetas, cuja eficiência é menor por conta da possibilidade de se deslocarem durante a queda e consequente rolagem pelo solo.
Outra diferenciação entre protetores diz respeito ao comprimento: os melhores são os mais longos, capazes de proteger desde a base da coluna até a altura dos ombros.
Há também modelos menores, que protegem apenas a legião lombar e que consequentemente tem menor capacidade de proteção.
Seja qual for o modelo, longo, curto, incorporado ao traje ou não, é necessário ao motociclista encarar o problema de frente e incorporar ao dia a dia o uso deste equipamento que, por mais incômodo que possa parecer, é e sempre será fundamental para que rodemos quilômetros e quilômetros em segurança.
E pensando bem, um protetor de coluna, por maior que seja, sempre será um equipamento mais fácil de administrar do que o superimportante, mas volumoso capacete, que hoje é parte indissociável de nossa vida ao guidão.
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